A mulher hoje tem uma enorme
responsabilidade. A mulher hoje tem a responsabilidade de mostrar a sociedade
quem ela é. Por quê? Porque a mulher de hoje é diferente da mulher de ontem.
É outro papel, outro jeito de ser, de viver e de se relacionar.
Para nossas mães e nossas avós, tudo
já estava estabelecido. A mulher cresce, casa e cuida da casa e dos filhos. O
marido determina como as coisas têm que se organizar, estabelece limites,
normas e regras, exige, cobra, disciplina e provê a família economicamente para
que não falte nada. Assim é a ele resguardado o direito de estabelecer suas
próprias regras e leis para sua vida e também de sua mulher. Como a mulher era de
sua propriedade, ele determinava que ela ficasse em casa cuidando das crianças
e ele podia sair e se divertir como os amigos ou com as “amigas”. A maioria das
mulheres vivia com seu marido em um acordo tácito de que tudo estava bem assim,
era “natural” que fosse assim. Ele podia, ela não podia inclusive trabalhar,
nem buscar a independência econômica ou a realização profissional. A mulher
deveria se realizar em casa, cuidando da casa e dos filhos. Essa era a sua
vocação.
Então, por trás de um grande homem
sempre havia, diziam, uma grande mulher, que vivia a sua disposição cuidando de
tudo para que ele se realizasse como profissional, pai ou marido. Fazia parte
da imagem de todo grande homem ter ao seu lado uma grande mulher, só que
essa mulher precisava estar ao seu lado, sempre bonita, bem arrumada e
sorridente, isto é, mostrando que estava realizada no seu papel.
Cresci vendo essa imagem na
televisão, mas em casa, vi minha avó e minha mãe se mostrarem insatisfeitas por
não poderem ir à luta e terem sua independência emocional e financeira. Vi
minha avó então se separar e ir a luta para terminar de criar os filhos, pois
naquela época não existia pensão obrigatória e a mulher se saísse de casa com
os filhos tinha que dar conta de sustentá-los. Vi minha avó vencer criando os
dez filhos, sozinha, e se tornarem todos grandes homens e grandes mulheres.
Depois, vi minha mãe ficar viúva e ter que ir a luta também e terminar de criar
os cinco filhos, também de forma vitoriosa porque mesmo ela tendo ficado só com
um salário mínimo de pensão, fez com que todos estudassem e todos tivessem seu
diploma de faculdade, porque ela sempre exigiu de todos que estudassem muito,
tanto os meninos quanto as meninas. Inclusive a nós meninas, ela dizia:
“Estudem muito, para que não venham a depender dos maridos e para que possam
escolher casar ou não.”É
claro que nos direcionou para as ditas profissões femininas, mas fez tudo o que
pode para nos garantir nossa profissionalização.
Assim, quando casei já tinha minha
profissão e meu sustento garantido, mas meu marido deixou claro que não
admitiria que eu ganhasse mais que ele. Nunca me preocupei com isto, mas sempre
corri atrás daquilo que considerava ser importante para minha realização
pessoal e profissional.
E assim, aos poucos nosso papel de
mulher foi mudando. Nós, mulheres desta geração, nossas mães e nossas avós, somos
responsáveis por essas mudanças. Porque nunca nos acomodamos, nunca nos
conformamos com as leis e regras do macho. Sempre ouvi as mulheres de todas as
gerações reclamarem que não era justo eles serem os protagonistas das histórias
e nós meras coadjuvantes. Até porque nossa forma de ver e sentir as coisas
sempre foi diferente.
A geração de nossas filhas e noras,
hoje já chega encontrando um longo caminho percorrido , então elas já
chegam determinadas e sabendo o que querem, já chegam com o direito garantido
de estudar , trabalhar e buscar seu caminho de realização fora do lar e do
casamento ou dentro dele. Mas já entram exigindo de seu companheiro a parceria,
a divisão igualitária de responsabilidades de tarefas seja em casa, com os
filhos ou com seu companheiro de trabalho, com quem competem de igual para
igual.
Mas qual é então a responsabilidade
que lhes cabe hoje? Penso que é a responsabilidade de se fazer respeitar,
valorizar e fazer valer sua vez e sua voz. Claro
que muitos de vocês vão dizer que isto já acontece, afinal, temos uma mulher
como presidenta e muitas mulheres se destacando em profissões inclusive as
ditas masculinas.
Mas, paralelo a isto, as mulheres
pobres, as mulheres que não tem acesso ao estudo e à informação, continuam
sendo submetidas, escravizadas, espancadas, prostituídas e vendidas como
mercadoria. Por baixo dos panos, a cena não mudou. Ainda o macho continua
impondo suas regras, como sempre apoiado na sua força física superior e na cultura
que ainda valoriza o macho, branco, rico, diplomado ou não, mas macho.
Então,
nesta “Semana da Mulher” é claro que festejamos toda essa caminhada e todo esse
processo de emancipação da mulher. Porém, acompanhando todo esse processo ao
longo da história, avaliamos que a mulher precisa ainda ganhar consciência cada
vez mais de que a luta continua. Deve continuar até que possamos ver todas as
mulheres, de todas as classes sociais, de todas as raças, de todos os credos,
de todas as idades, sendo valorizadas e reconhecidas como seres humanos dignos
de todo respeito, com sua dignidade e valor pessoal garantidos. Enquanto uma
mulher ou uma criança forem tratadas como mercadoria nessa terra, precisaremos
continuar gritando e fazendo valer nossa voz.
Aliás, a Campanha da Fraternidade
deste ano está nos mostrando que isto ainda está longe de acontecer porque
mesmo os homens ainda são escravizados e vendidos como mercadoria. Embora as
mulheres sejam maioria, é claro que precisamos lutar também por eles.
Lutar para que a vida, o respeito à
vida e ao ser humano, seja a lei universal neste planeta. Mesmo sabendo que
enquanto vivermos neste sistema em que o dinheiro e o lucro valem
mais prevalecerá a ambição e o egoísmo do homem. Acredito que a consciência desperta e o amor e compaixão um
dia prevalecerão, pois hoje se sabe que nenhum mal que o ser humano provoque a
sua terra ou a sua gente, deixará de afetá-lo também. Fazer e espalhar o bem
faz bem e fazer e espalhar o mal faz mal. Aos poucos, nós mulheres que queremos
ver vencer a força do amor e da solidariedade humana, precisamos assumir nosso
papel de fazer valer, em casa, no trabalho, na rua, em qualquer lugar que
estejamos, nosso reconhecimento, valor e respeito, através da nossa voz, nosso
trabalho e nosso engajamento nessa caminhada que precisa avançar cada vez mais.
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