Fonte: Vice Brasil
por 4 de abril de 2014
Duas semanas atrás, eu e a Débora Lopes escrevemos uma matéria falando sobre as duas pesquisas divulgadas pelo Ipea. Uma era uma pesquisa de opinião chamada Tolerância Social à Violência Contra as Mulheres e a outra era é Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde. Com isso, muita gente só sacou agora: o Brasil é machista.
Inclusive, a pesquisa incentivou a criação da campanha online #Eu Não
Mereço Ser Estuprada, que alcançou a marca de 11 mil usuárias que
puderam participar e expressar seu repúdio pelos resultados. Inclusive, a
criadora da campanha, Nana Queiroz, recebeu diversas ameaças de estupro
por conta disso.
E hoje (04/04), foi divulgado pelo próprio Ipea que a pesquisa de opinião Tolerância Social à Violência Contra as Mulheres
foi publicada com erros. Um deles foi que a afirmação "mulheres que
usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas" obteve 26% de
aprovação dos entrevistados e não 65%, como publicado anteriormente.
Inclusive, essa afirmação foi a que mais chamou a atenção. Em termos
práticos, nada de grave vai rolar porque é uma pesquisa de opinião, o
negócio agora é saber o que é que vai rolar quanto à opinião nacional
sobre o assunto.
O gráfico correto é esse aqui:
É claro também que muito chorume que consegue passar batido na internet
deu as caras com o resultado das pesquisas. E não duvido nem um pouco
que, com a errata, esse pessoal do chorume vai considerar uma vitória,
esses caras tipo o “liberal sem medo da polêmica” que escreveu “não
tenho dúvidas de que 'garotas direitas' correm menos risco de abuso
sexual” e outros otários que prestam esse maravilhoso desserviço na
internet, a ponto de falar que a violência contra à mulher no Brasil é
exagero ou que curtem chamar qualquer mulher de FEMINAZI (um termo que
adoro, aliás).
Parece que toda essa parcela de brancos privilegiados ainda não sacou
que a sociedade machista que eles tanto defendem com unhas e dentes é
sim um problema social, a ponto de ser uma puta de dor de cabeça para
qualquer mulher pegar um metrô porque ela tem que conferir à sua volta
se algum otário quer encoxá-la.
Em vista da publicação da errata, acabei conseguindo conversar com a
Luana Pinheiro, técnica do Ipea, que me informou que o relatório
corrigido será publicado entre hoje ou amanhã no site oficial do Ipea e
que “mesmo com os erros, isso não reduz de forma alguma a gravidade que a
pesquisa trouxe à tona. Ainda 58,5% concordam que se a ‘mulher soubesse
se portar, não haveria estupros’, ou seja, mais do que a maioria
concorda que a vítima é culpada pelo estupro”. Lembrando a todos também
que a outra pesquisa “Radiografia” não está errada e que 70% das vítimas
de estupros são crianças e adolescentes.
E também não recebi nenhuma errata sobre a pesquisa do Fórum de Segurança Pública
(publicada no ano passado) que mostrou que o número de denúncias de
estupros no Brasil é superior ao número de denúncias de homicídios.
Hoje, quando saí da cama para trabalhar, não senti nada diferente e acho
que nenhuma mulher se sentiu mais segura de alguma forma. Nada mudou
para nenhuma de nós. Tanto faz se é 65% ou 26%, ainda é perigoso ser
mulher no Brasil.
Siga a Marie Declercq no Twitter: @marieisbored
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